Este texto tem por objetivo apresentar aos professores noções básicas acerca
das deficiências físicas, sejam elas de origem neurológica, ou não, focalizando especialmente
aquilo que possa interferir no processo de ensino e aprendizagem.
Para melhor comunicação didática, optou-se por apresentar as deficiências em
três categorias, conforme classificadas por Wilson (1971):
1. Deficiências Musculares e/ou Neuromusculares;
2. Deformações ósseas;
3. Limitação do vigor, da vitalidade e/ou da agilidade;
Deficiências Musculares e/ou Neuromusculares
As deficiências cujas manifestações exteriores consistem em fraqueza muscular,
paralisia ou falta de coordenação, geralmente são designadas mais apropriadamente
como neuro-musculares, uma vez que as dificuldades encontram-se
mais freqüentemente nos centros e vias nervosas que comandam os músculos,
do que nos músculos em si. Lesões nervosas podem ser causadas por infecções
ou por lesões ocorridas em qualquer fase da vida da pessoa, podendo também
ocorrer por uma degeneração sem causa aparente. (Wilson, 1971)
Distrofia Muscular Progressiva – é o termo utilizado para as doenças cuja caracterização
é a degeneração e debilitação gradual dos músculos. Sua causa pode
estar na imperfeição do funcionamento do metabolismo, que resulta na falta de
nutrição dos músculos, na disfunção das glândulas endócrinas ou na deficiência
dos nervos periféricos. Afeta principalmente os meninos (sendo raro em meninas).
Os órgãos comprometidos são especialmente os músculos do esqueleto e às
vezes, os músculos cardíacos. Os sintomas começam a ser percebidos por volta do
segundo ano de idade, já que a criança apresenta uma tendência de andar sobre
as pontas dos pés e a cair. Raramente ela consegue correr. Mais ou menos aos
três anos de idade, a criança deixa de apresentar as contrações no joelho, embora
as de tornozelo demorem mais para desaparecer. Quando chega à adolescência,
o paciente geralmente não mais consegue andar. Sua respiração se torna cada
vez mais curta e vai, geralmente, a óbito, devido a infecção respiratória. Por não
existir nenhum medicamento para o tratamento deste quadro, bem como terapias
ou exercícios especiais que impeçam o aumento da fraqueza dos músculos, é de
fundamental importância que a criança permaneça ativa, continuando com as
atividades normais, o quanto lhe for possível, ajudando-a a adaptar-se às próprias
crescentes limitações. Cerca da metade destas crianças podem apresentar, também,
alguma deficiência mental; quando não, apresentam ótimo desempenho em
várias áreas. O objetivo de todo e qualquer tratamento da criança com distrofia
muscular deve ser o de ajudá-la a viver o melhor possível AGORA.
Esclerose Múltipla – outra doença degenerativa progressiva, caracterizada pela
desmielinização e destruição do tecido nervoso.
O desenvolvimento desta patologia envolve, inicialmente, períodos de intensa
fraqueza, fadiga, tontura, dificuldades com o controle urinário e distúrbios visuais.
À medida que ela progride, sua manifestação passa a se dar através de três
síndromes, que podem também se sobrepor.
• Síndrome espinhal – nesta, os sintomas mais comuns são: fraqueza, parestesias
e ataxias.
• Síndrome cerebral – quando a pessoa vivencia esta síndrome, ela pode
sofrer de hemiplegia, convulsões, distúrbios visuais, afasia e mesmo mudanças
bruscas nas características de sua personalidade.
• Síndrome tronco-cerebelar – neste caso, as manifestações mais comuns
são problemas da fala, nistagmo e tremores musculares, quando de movimentos
voluntários.
Poliomielite - Também conhecida como paralisia infantil, é a melhor conhecida das
doenças neuro-musculares. Doença infecciosa, pode ser causada por pelo menos
três tipos diferentes de vírus. Em intensidades variáveis, pode provocar a atrofia
e a degeneração das células nervosas afetadas, mudanças nas fibras nervosas
periféricas, paralisia, atrofia de tecido muscular, de tendão e ósseo. Em regiões
com higiene precária e falta de saneamento básico, a infecção da pólio espalhase
quando as fezes de uma criança doente atingem a boca de uma criança sadia.
Onde as condições sanitárias são melhores, a pólio espalha-se, principalmente,
através das tosses e espirros. Ela geralmente começa quando a criança é ainda
pequena, muitas vezes durante uma outra doença, como um resfriado forte ou
febre ou, às vezes, uma diarréia. A paralisia pode afetar qualquer parte do corpo,
mas mais comumente afeta as pernas. A paralisia não é progressiva, mas caso
não seja atendida com os tratamentos médicos e fisioterápicos adequados, pode
resultar em deformidades e atrofias. É importante se desenvolver todo esforço
possível para o encaminhamento e o atendimento da criança para os procedimentos
terapêuticos necessários. Já a maneira mais eficaz de prevenção é o uso
da vacina, que pode evitar até 70% dos casos.
Epilepsia - a epilepsia é um distúrbio cerebral, caracterizado por disritmias
eletroencefalográficas. Ela se manifesta através de diferentes tipos de crises,
podendo ser classificada de acordo com a natureza da lesão. Esta, por sua vez,
parece estar relacionada com o período de instalação e pela natureza da lesão
cerebral. As principais formas de epilepsia incluem:
• Pequeno mal – as crises deste tipo de epilepsia são caracterizadas por uma
perda transitória da consciência, que dura um máximo de 60 segundos. A
criança que tenha uma crise de pequeno mal perde a consciência, mas não
cai. Ela pode apresentar o olhar fixo, derrubar objetos, tornar-se pálida,
apresentar uma momentânea contração muscular, mais freqüentemente
quando a criança encontra-se sentada, sem se movimentar. Ao retornar ao
seu estado de consciência, rapidamente continua o que estava a fazer (por
exemplo: interrompe a leitura que estava fazendo, por alguns segundos, e
então continua a faze-lo). Ao professor, recomenda-se verificar qual conteúdo
a criança perdeu e qual conteúdo pôde apreender, já que quando vítima de
repetidas crises, a criança poderá ter seu processo de ensino aprendizagem
afetado pela ocorrência de sucessivos hiatos de consciência, não necessariamente
percebidos pela professora.
• Grande mal – as crises de grande mal se caracterizam por convulsões, com
manifestações tônicas e crônicas. A criança pode perceber “avisos” sensoriais,
os quais são denominados de aura. De maneira geral, a crise se caracteriza
por uma grande contração da musculatura, acompanhada por abundante
salivação e movimentos repetitivos da cabeça, dos braços e das pernas. Essa
crise é geralmente seguida de um sono profundo, que pode durar de cinco a
trinta minutos. Recomenda-se ao professor que, ao perceber uma crise, deite
a criança no chão, imediatamente, com a cabeça apoiada em algo macio, retirando
de junto dela objetos que a possam machucar (mobílias, pontas agudas,
etc). Não se deve jamais tentar introduzir objetos em sua boca (como lápis),
pois a tração mandibular é muito forte e pode machucar tanto a criança,
como o professor. É interessante virá-la de lado, para evitar que se afogue
com o excesso de salivação. Em todos os episódios, o encaminhamento
ao médico é essencial, para que as providências medicamentosas sejam
tomadas.
• Psicomotora – ocorre mais freqüentemente em adultos, apresentando
uma variedade de formas de manifestação. É o tipo menos conhecido de
epilepsia. O indivíduo que sofre uma crise pode passar por um breve momento
de ação automática, onde suas atitudes poderão parecer propositadas, mas,
na realidade, não as são. Ele fica em um estado de semi-consciência, podendo
desempenhar atos sem objetivo, ou mesmo inapropriados. Ele pode tirar as
roupas, lutar, dançar, cantar, chorar, correr, ou simplesmente fugir. Ele pode
também experimentar medo, ansiedade, tristeza ou outras emoções fortes.
Em casos raros, um comportamento agressivo destrutivo, ou atos de violência
criminosa podem ocorrer. Quando recuperado da crise, o sujeito pode não ser
mais capaz de lembrar o que fez, apresentando uma crise de mau humor.
• Focal (Jacksoniana) – esta forma é causada por lesões na área motora do
cérebro e é caracterizada por uma contração muscular incontrolável de uma
perna, um braço ou um lado do rosto. Em geral, não há perda de consciência
e às vezes, a crise pode se espalhar para ambos os lados.
Enxaquecas – dor de cabeça que afeta geralmente somente um dos lados da cabeça,
precedido por um período, que pode ser curto, de depressão, de irritabilidade
e perda de apetite. As crises de enxaqueca são geralmente acompanhadas de
fotofobia, náusea, vômitos e fobia por ruídos. Uma criança acometida de enxaqueca
necessita ser encaminhada para um quarto escuro e silencioso, podendo
também ser auxiliada pelo uso de analgésicos. É doloroso para ela permanecer no
ambiente agitado e barulhento da sala de aula. É também importante comunicar
a ocorrência das crises para os pais, de forma que atendimento médico possa ser
providenciado.
Paralisia Cerebral - termo utilizado para designar um conjunto complexo de distúrbios
da motricidade voluntária, isto é, do controle dos movimentos, uma vez
que é essa a parte afetada no cérebro. Estima-se que aproximadamente 2/3 das
pessoas que têm paralisia cerebral apresentam deficiência mental; entretanto,
freqüentemente o retardo mental é produto dos problemas de comunicação, ao
invés de uma deficiência básica. A paralisia cerebral pode ser causada por fatores
pré, peri e pós-natais. No período pré-natal encontram-se os defeitos genéticos,
anormalidades cromossômicas que podem produzir anormalidades estruturais no
cérebro e no esqueleto; erros de metabolismo, infecções maternas (como rubéola,
toxoplasmose ou sífilis), anóxia intra-uterina (causada pelo estrangulamento
pelo cordão umbilical ou por anemia da mãe, toxemia da gravidez) e intoxicações
(incompatibilidade de RH, exposição a radiação tóxica). Na fase peri-natal,
encontram-se principalmente os traumatismos (uso incorreto de fórceps, parto
rápido ou lento demais). Na fase pós-natal, são vários os fatores encontrados:
anóxia cerebral, infecções (encefalite, meningite), intoxicações (medicamentosa,
anestésica, de radiações), que podem resultar em dano cerebral. Considerando que
as células nervosas não se regeneram, uma vez danificadas assim o permanecem.
Entretanto, a tendência também é a de não ocorrer a piora do seu desempenho.
Já no que se refere aos movimentos, a postura corporal e os problemas a eles
relacionados podem melhorar ou piorar, dependendo da forma como cuidamos
da criança e também da extensão da lesão no cérebro. Isto significa que, quanto
mais cedo for iniciado um tratamento, mais melhoras poderão ser conseguidas
ao longo dos anos.
Gina Mitsunaga Kijima
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