Reabilitação neuropsicológica (esquizofrenia)

Ao longo de várias décadas, o prejuízo funcional da
doença tem sido basicamente tratado por intermédio
dos programas de reabilitação psicossociais (Kurtz et
al., 2001), que objetivam especificamente o treino de
habilidades sociais, ocupacionais, autocuidado e vida
independente amparado por técnicas comportamentais.
Contudo, os resultados nesta área têm sido pouco
expressivos, indicando que algum outro fator poderia
estar interferindo nos efeitos dessas intervenções. Atualmente,
os déficits cognitivos são reconhecidos como
fatores centrais desses resultados.
Considerando o fato de que estes programas são
baseados nos modelos de aprendizagem e de que os
déficits cognitivos limitam a aquisição de novas informações
e habilidades, pode-se supor que quanto mais
graves forem os déficits cognitivos, principalmente
aqueles relacionados à atenção, à memória e às funções
executivas, menor é a chance de os pacientes com esquizofrenia
se beneficiarem de tais programas. Além
disso, os sintomas negativos estão associados ao menor
benefício das intervenções em reabilitação psiquiátrica
(Sharma e Antonova, 2003).
Contudo, estudos experimentais com ênfase no treino
cognitivo sistemático têm revelado alguns resultados
positivos com pacientes esquizofrênicos (Kurtz et al.,
2001). Os autores revisaram e analisaram os estudos
de reabilitação cognitiva em três áreas: funções executivas,
atenção e memória. Os resultados indicaram que
os pacientes obtiveram melhora na execução do teste
de classificação de cartas (Wisconsin Card Sorting
Test), observada por intermédio das mensurações de
erros perseverativos, categorias completas e nível conceitual
de respostas, tendo como base as intervenções
específicas, como instruções ampliadas e reforço das
contingências. Melhora da habilidade atencional e da
memória foi observada por meio do treino de sustentação
da atenção e procedimentos de codificação. Além
disso, o treino dessas habilidades levou a uma melhora
do reconhecimento
dos sinais sociais.
O modelo compensatório comumente utilizado na
reabilitação médica tem sido considerado o mais apropriado
para minimizar o impacto dos déficits cognitivos
na vida diária (Bellack et al., 1999). Assim, o emprego de
estratégias compensatórias, como o uso de anotações e
checagem e a utilização de pistas visuais, assim como o
treino das habilidades cognitivas, podem contribuir de
forma efetiva para a minimização das conseqüências
funcionais dos déficits cognitivos na esquizofrenia.
Apesar de os resultados nessas áreas serem considerados
promissores (Kurtz et al., 2001; Peuskens et al.,
2005), uma série de questões continua em aberto, como
aquelas relacionadas à sustentação dos ganhos obtidos
por intermédio do programa de reabilitação cognitiva e
à generalização desses ganhos para as outras atividades
da vida diária. Além disso, a maioria dos estudos que
foram revisados e analisados continha amostras de
pacientes crônicos, ou seja, com maior grau de prejuízo
cognitivo e, conseqüentemente, maior sintomatologia
negativa (Kurtz et al., 2001). Neste sentido, o trabalho
de reabilitação cognitiva poderia alcançar um efeito
ainda maior com populações menos prejudicadas, como
os pacientes de primeiro episódio ou então por meio da
intervenção precoce na população de alto risco.

Referências
Adad, M.A.; Castro, R.; Mattos, P. - Aspectos neuropsicológicos da esquizofrenia.
Revista Brasileira de Psiquiatria 22 (supl. 1): 31-34, 2000.

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