Deficiência múltipla - As crianças com deficiência múltipla: das necessidades às possibilidades

As crianças com qualquer deficiência, independentemente de suas condições físicas,
sensoriais, cognitivas ou emocionais são crianças que têm necessidade e possibilidade de
conviver, interagir, trocar, aprender, brincar e serem felizes, embora, algumas vezes, por
caminhos ou formas diferentes.
Essa forma diferente de ser e agir é que as torna ser único, singular. Devem ser olhadas
não como defeito, incompletude ou incapacidade, mas como pessoas com possibilidades e
dificuldades que podem ser superadas ou minimizadas. Trabalhar com crianças que
apresentam dificuldades acentuadas no processo de desenvolvimento e aprendizagem é um
grande desafio, com o qual podemos aprender e crescer como pessoas e profissionais, buscando
compreender e ajudar o outro.
Os alunos com deficiência múltipla podem apresentar alterações significativas no
processo de desenvolvimento, aprendizagem e adaptação social. Possuem variadas
potencialidades, possibilidades funcionais e necessidades concretas que necessitam ser
compreendidas e consideradas. Apresentam, algumas vezes, interesses inusitados, diferentes
níveis de motivação, formas incomuns de agir, comunicar e expressar suas necessidades,
desejos e sentimentos.
A inclusão desses alunos no sistema regular de ensino é desejada por famílias, escolas
e professores solidários que se propõem a assumir esse desafio. As escolas que têm obtido
êxito no processo de inclusão adotam como compromisso o respeito à diversidade e diferenças
individuais, a adaptação do currículo e a modificação dos recursos metodológicos e do meio.
Esses são fatores essenciais e capazes de atender às expectativas das famílias e necessidades
específicas de aprendizagem desses educandos.
Convidamos os leitores adentrarem ao mundo das pessoas com deficiência múltipla e
conhecerem um pouco das possibilidades, interesses, desejos, necessidades e expectativas
dessas crianças e de seus familiares.
Abrindo caminhos e construindo pontes
Esta é a história de T., uma criança alegre e feliz, que freqüenta desde os quatro anos
de idade a classe comum, em um centro de educação infantil no Rio de Janeiro. Ela ficava
muito triste, sozinha no silêncio de sua casa, irritava-se, chorava muito, ficava nervosa e
mordia muito a sua mão. A família observou que quando saia à rua ou ia ao parquinho próximo
de sua casa, ela se transformava, era outra criança, ficava muito alegre e feliz.
de sua casa, ela se transformava, era outra criança, ficava muito alegre e feliz.
Resolveram então, procurar um centro de educação infantil. T. gosta muito da escola,
raramente chora e faz birras, só quando não é compreendida. Tem prazer em conviver e se
relacionar com outras crianças.
T. possui deficiência visual severa, com acentuada microcefalia decorrente de
toxoplasmose congênita, alteração significativa das funções neurológica, motora e intelectual.
Não fala, não anda, mas gosta de brincar com ajuda, interage e se comunica por algumas
expressões faciais, gestos muito simples e pelo tabuleiro de comunicação com objetos
símbolos que foram adaptados.
A escola trabalha em parceria com a professora especializada e com a equipe terapêutica
(fisioterapeuta, fonoaudióloga e terapeuta ocupacional), que realiza atendimentos individuais
fora da escola. Esses profissionais têm pesquisado e ajudado a escola com relação às
necessidades específicas de T. e às adaptações correspondentes, possibilitando um melhor
nível funcional da criança em todas as atividades escolares.
T. utiliza programas muito simples de informática, o que possibilita a comunicação, a
expressão dos sentimentos, pensamentos e a construção do conhecimento. O que ela mais
gosta na escola é de brincar de faz de conta, do cantinho da leitura onde ela participa com
personagens concretos (bonecos ou objetos), do parque, onde ela precisa de constante ajuda
física para poder participar dos brinquedos e brincadeiras com as outras crianças.
No lanche, ela já gosta de mostrar suas habilidades: aprendeu a beber no copo, come
com suas mãos o biscoito ou fruta e toma iogurte com a colher. Com ajuda física, já está
aprendendo a pôr e tirar a roupa, participa da arrumação da mesa e lava os utensílios como
as outras crianças. Nas atividades de pátio e quadra, T. gosta muito de participar das
brincadeiras e algazarras das outras crianças, e quase voa atrás delas, no seu possante andador
protegido que lhe permite movimentar-se e correr com a ajuda de seus colegas. É feliz porque
pode participar da vida e aprender com as outras crianças.

Fonte: MEC-2006-BRASÍLIA-DF

Nenhum comentário:

Postar um comentário