CARACTERIZANDO A SURDEZ

O conhecimento sobre as características da surdez permite àqueles que se relacionam ou que pretendem desenvolver algum tipo de trabalho pedagógico com
pessoas surdas, a compreensão desse fenômeno, aumentando sua possibilidade
de atender às necessidades especiais constatadas.
Quanto ao período de aquisição, a surdez pode ser dividida em dois grandes
grupos:
• Congênitas, quando o indivíduo já nasceu surdo. Nesse caso a surdez é
pré-lingual, ou seja, ocorreu antes da aquisição da linguagem.
• Adquiridas, quando o indivíduo perde a audição no decorrer da sua vida.
Nesse caso a surdez poderá ser pré ou pós-lingual, dependendo da sua
ocorrência ter se dado antes ou depois da aquisição da linguagem.
Quanto à etiologia (causas da surdez), elas se dividem em:
• Pré-natais – surdez provocada por fatores genéticos e hereditários,
doenças adquiridas pela mãe na época da gestação (rubéola, toxoplasmose,
citomegalovírus), e exposição da mãe a drogas ototóxicas (medicamentos que
podem afetar a audição).
• Peri-natais: surdez provocada mais freqüentemente por parto prematuro,
anóxia cerebral (falta de oxigenação no cérebro logo após o nascimento) e
trauma de parto (uso inadequado de fórceps, parto excessivamente rápido,
parto demorado).
• Pós-natais: surdez provocada por doenças adquiridas pelo indivíduo ao longo

da vida, como: meningite, caxumba, sarampo. Além do uso de medicamentos ototóxicos, outros fatores também têm relação com a surdez, como avanço
da idade e acidentes.
Com relação à localização (tipo de perda auditiva) da lesão, a alteração
auditiva pode ser:
• Condutiva: quando está localizada no ouvido externo e/ou ouvido
médio; as principais causas deste tipo são as otites, rolha de cera, acúmulo
de secreção que vai da tuba auditiva para o interior do ouvido médio,
prejudicando a vibração dos ossículos (geralmente aparece em crianças
freqüentemente resfriadas). Na maioria dos casos, essas perdas são reversíveis
após tratamento.
• Neurossensorial: quando a alteração está localizada no ouvido interno
(cóclea ou em fibras do nervo auditivo). Esse tipo de lesão é irreversível; a
causa mais comum é a meningite e a rubéola materna.
• Mista: quando a alteração auditiva está localizada no ouvido externo e/ou
médio e ouvido interno. Geralmente ocorre devido a fatores genéticos,
determinantes de má formação.
• Central: A alteração pode se localizar desde o tronco cerebral até às
regiões subcorticais e córtex cerebral.
O audiômetro é um instrumento utilizado para medir a sensibilidade auditiva
de um indivíduo. O nível de intensidade sonora é medido em decibel (dB).
Por meio desse instrumento faz-se possível a realização de alguns testes, obtendose
uma classificação da surdez quanto ao grau de comprometimento (grau
e/ou intensidade da perda auditiva), a qual está classificada em níveis, de acordo
com a sensibilidade auditiva do indivíduo:
Audição normal - de 0 15 dB
Surdez leve – de 16 a 40 dB. Nesse caso a pessoa pode apresentar
dificuldade para ouvir o som do tic-tac do relógio, ou mesmo uma
conversação silenciosa (cochicho).
Surdez moderada – de 41 a 55 dB. Com esse grau de perda auditiva a
pessoa pode apresentar alguma dificuldade para ouvir uma voz fraca ou o
canto de um pássaro.
Surdez acentuada – de 56 a 70 dB. Com esse grau de perda auditiva
a pessoa poderá ter alguma dificuldade para ouvir uma conversação
normal.
Surdez severa – de 71 a 90 dB. Nesse caso a pessoa poderá ter

dificuldades para ouvir o telefone tocando ou ruídos das máquinas de
escrever num escritório.
Surdez profunda – acima de 91 dB. Nesse caso a pessoa poderá ter
dificuldade para ouvir o ruído de caminhão, de discoteca, de uma máquina
de serrar madeira ou, ainda, o ruído de um avião decolando.
A surdez pode ser, ainda, classificada como unilateral, quando se apresenta em
apenas um ouvido e bilateral, quando acomete ambos ouvidos.

A RELAÇÃO ENTRE O GRAU DA SURDEZ
E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Sendo a surdez uma privação sensorial que interfere diretamente na
comunicação, alterando a qualidade da relação que o indivíduo estabelece com
o meio, ela pode ter sérias implicações para o desenvolvimento de uma criança,
conforme o grau da perda auditiva que as mesmas apresentem:
• Surdez leve: a criança é capaz de perceber os sons da fala; adquire e
desenvolve a linguagem oral espontaneamente; o problema geralmente é
tardiamente descoberto; dificilmente se coloca o aparelho de amplificação
porque a audição é muito próxima do normal.
• Surdez moderada: a criança pode demorar um pouco para desenvolver a
fala e linguagem; apresenta alterações articulatórias (trocas na fala) por não
perceber todos os sons com clareza; tem dificuldade em perceber a fala em
ambientes ruidosos; são crianças desatentas e com dificuldade no aprendizado
da leitura e escrita.
• Surdez severa: a criança terá dificuldades em adquirir a fala e linguagem
espontaneamente; poderá adquirir vocabulário do contexto familiar; existe
a necessidade do uso de aparelho de amplificação e acompanhamento
especializado.
• Surdez profunda: a criança dificilmente desenvolverá a linguagem oral
espontaneamente; só responde auditivamente a sons muito intensos como:
bombas, trovão, motor de carro e avião; freqüentemente utiliza a leitura orofacial;
necessita fazer uso de aparelho de amplificação e/ou implante coclear,
bem como de acompanhamento especializado.
O TRABALHO DO PROFESSOR

(extraído da cartilha “A deficiência auditiva na
idade escolar” - Programa Saúde Auditiva – HRAC/USP)
O professor precisa observar:
• Se a criança apresenta dificuldade na pronúncia das palavras,
• Se a criança aparenta preguiça ou desânimo,
• Se a criança atende aos chamados,
• Se a criança inclina a cabeça, procurando ouvir melhor,
• Se a criança usa palavras inadequadas e erradas, quando comparadas às
palavras utilizadas por outras crianças da mesma idade,
• Se a criança não se interessa pelas atividades ou jogos em grupo,
• Se a criança é vergonhosa, retraída e desconfiada,
• Se fala muito alto ou muito baixo,
• Se a criança pede repetição freqüentemente.

Referências Bibliográficas
Bevilacqüa, M. C. (1998). Conceitos básicos sobre a audição e a deficiência
auditiva. Cadernos de audiologia. Bauru: H.P.R.L.L.P / USP.
Brasil - A Deficiência Auditiva na Idade Escolar – Cartilha. Programa de
Saúde auditiva. Bauru: H.P.R.L.L.P. USP, FUNCRAF, Secretaria de Saúde
do Estado de São Paulo.
Fernandes, J. C. (1995). Noções de Acústica. Apostila elaborada para o Curso
de Formação: Metodologia Verbotonal na Deficiência Auditiva. Bauru:
H.P.R.L.L.P. USP.
Katz, J. E.D (1989). Tratado de audiologia clínica. São Paulo: Editora
Manole.

Desenvolvendo competências

para o atendimento às necessidades
educacionais especiais de alunos surdos-Brasília-DF 2006-MEC

Nenhum comentário:

Postar um comentário