A LINGUAGEM E A SURDEZ

A linguagem permite ao homem estruturar seu pensamento, traduzir o que
sente, registrar o que conhece e comunicar-se com outros homens. Ela marca o
ingresso do homem na cultura, construindo-o como sujeito capaz de produzir
transformações nunca antes imaginadas.
Apesar da evidente importância do raciocínio lógico-matemático e dos sistemas
de símbolos, a linguagem, tanto na forma verbal como em outras maneiras de
comunicação, permanece como meio ideal para transmitir conceitos e sentimentos,
além de fornecer elementos para expandir o conhecimento.
A linguagem, prova clara da inteligência do homem, tem sido objeto de pesquisa
e de discussões. Ela tem sido “um campo fértil” para estudos referentes à aptidão
lingüística, tendo em vista a discussão sobre falhas decorrentes de danos cerebrais
ou de distúrbios sensoriais, como a surdez.
Com os estudos do lingüista Chomsky (1994), obteve-se um melhor entendimento
acerca da linguagem e de seu funcionamento. Suas considerações partem do fato
de que é muito difícil explicar como a linguagem pode ser adquirida de forma
tão rápida e tão precisa, apesar das impurezas nas amostras de fala que a criança
ouve. Chomsky, junto com outros estudiosos, admite, ainda, que as crianças
não seriam capazes de aprender a linguagem, caso não fizessem determinadas
suposições iniciais sobre como o código deve ou não operar. E acrescenta que tais
suposições estariam embutidas no próprio sistema nervoso humano.
A palavra tem uma importância excepcional, no sentido de dar forma à atividade

mental e é fator fundamental de formação da consciência. Ela é capaz de assegurar
o processo de abstração e de generalização, além de ser veículo de transmissão
do saber.
Os indivíduos que ouvem parecem utilizar, em sua linguagem, os dois processos:
o verbal e o não verbal. A surdez congênita e pré-verbal pode bloquear o
desenvolvimento da linguagem verbal, mas não impede o desenvolvimento dos
processos não-verbais.
A fase de zero a cinco anos é decisiva para a formação psíquica do ser humano,
uma vez que nesse período ocorre a ativação das estruturas inatas genéticoconstitucionais
da personalidade. A falta do intercâmbio auditivo-verbal traz
para o surdo, prejuízos ao seu desenvolvimento.
A teoria sobre a base biológica da linguagem admite a existência de um substrato
neuro-anatômico no cérebro para o sistema da linguagem. Portanto, todos os
indivíduos nascem com predisposição para a aquisição da fala. Nesse caso, o
que se deduz é a existência de uma estrutura lingüística latente responsável
pelos traços gerais da gramática universal (universais lingüísticos). A exposição
a um ambiente lingüístico é necessária para ativar a estrutura latente e para
que a pessoa possa sintetizar e recriar os mecanismos lingüísticos. As crianças
são capazes de deduzir as regras gerais e regularizar os mecanismos de uma
conjugação verbal, por exemplo. Dessa forma, utilizam as formas “eu fazi”, “eu
di”, enquadrando-os nas desinências dos verbos regulares - eu corri, eu comi.
As crianças ditas “normais” e também um grande número de crianças “com
necessidades especiais” aprendem a língua de uma forma semelhante e num mesmo
espaço de tempo. No entanto, não se pode esquecer das diferenças individuais.
Essas são encontradas nos tipos de palavras que as crianças pronunciam primeiro.
Algumas emitem nomes de coisas, enquanto outras, evitando substantivos,
preferem exclamações. Outras, ainda, expressam automaticamente os elementos
emitidos pelos mais velhos.
Há crianças, no entanto, que apresentam dificuldades na aquisição da linguagem.
Às vezes, a dificuldade aparece, principalmente, no que se refere à percepção e
à discriminação auditiva, o que traz transtornos à compreensão da linguagem.
Outras vezes, a dificuldade é relativa à articulação e à emissão da voz, o que produz
transtornos na emissão da linguagem. Tudo isso pode ou não ter relação com a
surdez, visto que muitas crianças que apresentam dificuldades lingüísticas não
têm audição prejudicada. Por exemplo: a capacidade de processar rapidamente
mensagens lingüísticas - um pré-requisito para o entendimento da fala - parece
depender do lóbulo temporal esquerdo do cérebro. Danos a essa zona neural

ou seu desenvolvimento “anormal” geralmente são suficientes para produzir
problemas de linguagem.
Fonte: MEC-2006/ Brasília-DF

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