aluno surdo na sua sala de aula.

Professor, você tem diante de si um aluno surdo. Certamente, já deve ter se
perguntado o que significa ser surdo?. Ser pouco inteligente? Ser mudo? Ter
problemas de comunicação? Usar as mãos para se comunicar? O que existe, de
fato, na realidade relativa à surdez?
Na verdade, os pontos de vista sobre a surdez variam de acordo com as diferentes
épocas e os grupos sociais no qual são produzidos. Estas representações darão
origem a diferentes práticas sociais, que limitarão ou ampliarão o universo de
possibilidades de exercício de cidadania das pessoas surdas.
A história da educação de surdos é uma história repleta de controvérsias
e descontinuidades. Como qualquer outro grupo minoritário, os surdos
constituíram-se objeto de discriminação em relação à maioria ouvinte.
Antes do séc. XIX, os surdos ocupavam papéis significativos. Sua educação
realizava-se por meio da língua de sinais e a maioria dos seus professores eram
surdos. No entanto, estudiosos, surdos e professores ouvintes, à época, divergiam
quanto ao método mais indicado para ser adotado no ensino de surdos. Uns
acreditavam que deveriam priorizar a língua falada, outros a língua de sinais
e outros, ainda, o método combinado. Em 1880, no Congresso Mundial de
Professores de Surdos (Milão-Itália) chegou-se à conclusão de que os surdos
deveriam ser ensinados pelo método oral puro, sendo proibida a utilização
da língua de sinais. A partir daí, a opressão de mais de um século a que os
surdos foram submetidos, sendo proibidos de utilizar sua língua e obrigados a
comportarem-se como os ouvintes, trouxe uma série de conseqüências sociais e
educacionais negativas.
Os estudos sobre a surdez e suas conseqüências lingüísticas e cognitivas
continuaram a provocar controvérsias e, ainda hoje, esse tema é de grande
interesse para todos os profissionais que buscam uma melhor qualidade na

educação do aluno surdo.
As mudanças de concepção dependem da forma de pensar e narrar a surdez e são
elas múltiplas e variadas. Entretanto, podemos sistematizá-las em dois grandes
modelos, os quais passaremos a expor. Até hoje, em algumas escolas, a surdez é
vista apenas na concepção clínico-terapêutica.
Pode-se resumir tal concepção da seguinte forma:
A SURDEZ NA CONCEPÇÃO CLÍNICO-TERAPÊUTICA

• A surdez é uma diminuição da capacidade de percepção normal
dos sons, que traz ao indivíduo uma série de conseqüências ao seu
desenvolvimento, principalmente no que diz respeito à linguagem
oral.
• Considera-se surdo o indivíduo cuja audição não é funcional na
vida comum e, parcialmente surdo, aquele cuja audição, ainda que
deficiente, é funcional com ou sem prótese auditiva. A competência
auditiva é classificada como: normal, perda leve, moderada, severa e
profunda. A surdez severa e profunda impedem que o aluno adquira,
naturalmente, a linguagem oral.
• Por decorrência dessa dificuldade em desenvolver normalmente
a linguagem oral, os indivíduos surdos podem apresentar um
atraso intelectual de dois a cinco anos, dificuldades de abstração,
generalização, raciocínio lógico, simbolização, entre outros.
• Essa incapacidade de se comunicar, da mesma forma que as demais
pessoas, atua de modo significativo em sua personalidade, fazendo com
que manifeste tendências de introspecção, imaturidade emocional,
rigidez de juízos e opiniões, prejudicando o desenvolvimento do sujeito
em sua globalidade.
• A fim de que estes problemas sejam evitados é aconselhável que a
criança surda seja encaminhada o mais cedo possível a uma escola
especializada, para que possa receber estimulação auditiva e oral
adequada, adquirindo um desenvolvimento próximo aos padrões de

normalidade.
• O domínio da linguagem oral irá permitir sua plena integração na
sociedade, uma vez que essa é a forma usual de comunicação entre as
pessoas.
• O desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem está subordinado
ao aprendizado da linguagem oral.
Esta concepção de surdez foi e ainda é dominante e trouxe a prevalência de um
modelo de educação que visava a cura ou a reabilitação do surdo, impondo-lhe a
obrigação de falar, mesmo que tal processo negligenciasse a carga horária prevista
para o desenvolvimento do currículo. Supunha-se que ao oralizar o surdo, sua
alfabetização (leitura e escrita) ocorreria de forma mais natural e próxima ao
modelo apresentado pelas demais pessoas, favorecendo sua integração social.
Sob esse ponto de vista, toda a Educação Especial esteve voltada à reabilitação de
audição e da fala – esta última tomada como sinônimo de linguagem. Os objetivos
da educação dos surdos reduziam-se à práticas corretivas e de estimulação oralauditiva,
em um encaminhamento metodológico que se convencionou chamar
de oralismo.
A principal falha desse modelo foi desconsiderar os resultados negativos que
apontavam que tal processo poderia ser eficaz, do ponto de vista da possibilidade
do desenvolvimento da linguagem oral, em determinadas circunstâncias:
• início na educação infantil antes dos cinco anos;
• pais envolvidos no processo educacional;
• profissionais de saúde e educação bem preparados e com atuação constante
com o aluno;
• protetização e manutenção adequadas, nos casos de crianças com resíduos
auditivos.
Entretanto, para grande maioria dos surdos brasileiros, tais circunstâncias não
se apresentam. Significa dizer que esse processo não tem relação direta com as
ditas limitações naturais da surdez, mas está diretamente relacionada às falhas
nas estruturas do sistema público de saúde e educação.

Fonte: MEC/ Brasilia-DF

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